A Casa da Cultura de Teresina abrigou nesta quarta-feira (28) um sarau lítero-musical em homenagem ao poeta piauiense H. Dobal. Os saraus são promovidos mensalmente pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves e pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). A cada vez, é selecionado um poeta de destaque local e outro de destaque nacional. Este mês, H. Dobal foi homenageado único em honra à passagem de seu aniversário, no dia 17 de outubro. A gerente de promoção cultural da Casa da Cultura, Luíza Miranda, disse ainda que "Dobal merece a homenagem exclusiva porque é um escritor de alcance local e nacional, é a voz da juventude".
O objetivo do sarau é fazer com que a poesia chegue ao público mais jovem, por meio do casamento com a música alternativa. A trilha sonora do sarau de hoje ficou por conta da banda Química, formada por Gilberto Portela, Caio Michael e Aislan Leal. Os três amigos tarabalham com estilos variados: passeiam pela música erudita, pelo rock, pela música popular. Também são grandes fãs da poesia piauiense, e falaram sobre a íntima relação que ela tem com a música. "H. Dobal tinha um poder muito grande sobre a juventude, um apelo fantástico. E a poesia dele é perfeitamente ritmada, é música. Além disso, transmite sentimentos com fidelidade", diz Aislan Leal.
O professor Cinéas Santos, presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves e idealizador dos saraus, também participou da noite de poesia. Ele ressaltou a grandeza de H. Dobal enquanto um mestre da palavra, comparando-o a João Cabral de Melo Neto, autor do célebre poema "Morte e Vida Severina". "Dobal tinha o dom da palavra, construía versos perfeitos. Se um substantivo fosse retirado de um verso de Dobal, toda a estrutura desmoronaria.
Os saraus também são parte de uma estratégia para fazer com que a população frequente a Casa da Cultura. São constantes as reclamações acerca da localização do espaço. A iluminação e as condições de segurança da Praça Saraiva não são lá muito satisfatórias, mas a organização da FCMC quer acabar com o estigma da inacessibilidade do lugar. Para isso, está sendo realizada uma campanha de divulgação da história e a organização da Casa. "A Casa da Cultura completou quinze anos em agosto, e a maior parte dos teresinenses não sabe o que ela tem produzido. Nós estamos trabalhando para mostrar que aqui temos bons recursos, e que vale a pena passar por aqui. Queremos ver este lugar cheio de gente", fala empolgada a diretora da Casa da Cultura, Jôsy Brito.
Os saraus acontecem sempre na última quarta-feira de cada mês, às 20 horas, e a entrada é gratuita.
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O último poema
H. Dobal
Eu me perdi, Senhor, nesta agonia,
e fiquei só dentro da noite escura.
(A luz da vela não me aclara mais,
tudo ficou de repente tão escuro.)
Para que seguir, Senhor, p'ra quê
se ninguém nunca foge a este fim?
Se tudo tem de ser inevitável,
e melhor que se faça logo agora.
É inúltil seguir,
porque no fim é sempre a mesma coisa.
E agora tudo perdeu-se para mim,
nesta agonia tudo está perdido.
Fiquei sozinho, Senhor... só com o Desalento.
(a luz da vela não me aclara mais)
Perdão, perdão meu Deus, mas eu não sigo mais,
Tu apagaste para sempre a minha luz,
e sem a luz, que é que eu vou fazer?
Não posso ver as cousas novamente,
Não posso ver as cousas novamente,
não posso amar, sonhar, nem rir e nem brincar.
Sozinho neste escuro, a agonia,
a agonia, Senhor, é dolorosa,
mais do que isso, Senhor, é insuportável.
Tu apagaste para sempre a minha luz,
e eu não posso continuar nessa agonia.
Por que, Senhor, ficou tudo de repente tão escuro,
tão sombrio?
Por que a luz da vela não me aclara mais?
Perdão, meu Deus, eu não sigo mais.
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Vídeo, fotos e texto: Shaianna Araújo
(shaiannaaraujo@hotmail.com)
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