Estamos presenciando o fim do folclore?

quarta-feira, 19 de maio de 2010
“As pessoas veem a cultura popular e as tradições em si como se logo não fossem existir mais, e mesmo o pouco que ainda ganha destaque é visto como algo que estivesse prestes a se extinguir; veem como o 'último mamute'.”. Assim lamenta Vagner Ribeiro, coordenador da Divisão de Cultura Popular da Fundação Monsenhor Chaves, sobre a presença do folclore na sociedade.

Em uma rápida pesquisa pela internet, podemos encontrar a definição de folclore como um gênero cultural de origem popular constituído pelos costumes e tradições transmitidos de geração em geração. A difusão oral pelas conversas com mais velhos é a base da sobrevivência das tradições, e, de maneira contraditória, talvez seja também o que mais dificulte sua perpetuação.

A transmissão do conhecimento sobre a cultura popular ainda é dependente quase que exclusivamente dessa interação entre os mais velhos e as novas gerações, o que, por sua vez, depende do interesse desses jovens em aprender e assumir o papel de novo propagador dessa cultura.

Marco Vilarinho, editor do caderno Metrópole do jornal O Dia, analisa o quadro da difusão dessas tradições como preocupante. “Sempre foi assim; o que havia, há algum tempo, era mais pessoas comprometidas com a cultura popular, num tempo em que não havia essa globalização”, e comenta ainda: “Se a globalização por um lado une, diminui os espaços, por outro extirpa as peculiaridades de cada lugar se não houver uma 'vigilância cultural'.”.

Como despertar o interesse dos jovens em pesquisar, entender e adotar para si o papel de propagador das tradições é a grande questão para a sobrevivência dessa face da cultura, e é evidente que o papel da mídia como divulgadora de temas sociais é essencial para a resolução desse entrave.

Para Jacqueline Dourado, professora Dra. da Universidade Federal do Piauí e pesquisadora de folkcomunicação, o papel é essencial, sim, mas o aspecto empresarial dos meios acaba falando mais alto. “Olha, se o empresário recebe para anunciar bandas ligadas a toda dinâmica e lógica da indústria cultural, infelizmente, é óbvio que ele não vai preferir dar espaço ao boi do bairro 'Xis'.” Assim também pensa Marco Vilarinho; segundo ele, o jornalista tem seu papel de educador, mas, pelo fato do jornal se tratar de uma empresa, em nome da própria sobrevivência, este prioriza a publicação dos temas que mais vendem.

E esse é o desafio a ser vencido, segundo Vagner Ribeiro. Conseguir tornar a cultura popular um produto mais interessante do ponto de vista do mercado, respeitando suas tradições, seria a solução para a questão do “fim do folclore”. Nesse sentido, é notável o papel dos grupos parafolclóricos. Embora pouco conhecidos, eles têm um papel de extrema relevância para a sobrevivência das tradições.

Segundo Vagner, estes grupos desempenham um papel social de aproximação entre o lendário quase extinto e o grande público, fazendo revisões das histórias, como um trabalho de remixagem para uma linguagem mais atual e interessante para o contexto de hoje, o que colocaria novamente as tradições em discussão.

Assim como uma solução encontrada pode ser mudar a roupagem da cultura popular para adaptá-la à jornalística, a outra envolve o papel do jornalista enquanto educador, que também não deve ser posto de lado, que é o que Marco Vilarinho defende para enriquecimento tanto do leitor quanto do profissional. Ele lamenta ainda a falta do interesse social em promover essa face da cultura. “A maioria (dos jornalistas) não tem grande interesse. Para eles, cultura é filme, shows de axé, etc. O verdadeiro jornalista cultural é, acima de tudo, um grande leitor e um pesquisador, e não um mero copiador que reproduz o que os outros dizem.”
Texto e fotos: Juscelino Ribeiro Jr.
(juscelinoribeirojr@hotmail.com)

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