Conferência Municipal de Cultura terminou neste sábado

sábado, 31 de outubro de 2009

Encerrou-se na manhã deste sábado (31) a 2ª Conferência Municipal de Cultura, um preparativo para a Conferência Nacional de Cultura. Foram poucas as pessoas que compareceram à Casa da Cultura para assistir à palestra do historiador Paulo Machado e sugerir propostas de políticas públicas para a gestão da cultura em Teresina. A platéia, apesar de diminuta, foi bastante participativa durante o decorrer dos trabalhos.

O dia começou com uma discussão sobre a forma como a história e a cultura do Piauí são tratadas nas escolas públicas e privadas de ensino médio e fundamental. Segundo Paulo Machado, “a história é uma grande vítima da ideologia. Ela sempre foi contada a partir das versões oficiais, que privilegiam os agentes provindos da Europa.” Durante a palestra, Machado apresentou resultados de suas pesquisas acerca dos traços culturais indígenas e africanos no Piauí pré-colonial.
Os dados referentes a essa época foram, em sua maioria, perdidos ou distorcidos. Colaboraram para isso as intensas perseguições aos índios, executadas principalmente por bandeirantes – destaca-se o nome de Domingos Jorge Velho, que alterna entre os papéis de herói desbravador e assassino sanguinário. Séculos de escravidão indígena – a escravidão vermelha, como diz Paulo Machado – foram simplesmente ignorados pelos autores de livros didáticos para o ensino básico. Os estudantes piauienses aprendem que o Piauí começou com a implantação das fazendas de gado, quando chegaram os escravos negros e a prática da pecuária extensiva.

Os registros deficientes somados à falta de investimento na cultura constituem entraves à preservação da identidade cultural do Piauí. Nelson Nery Costa, presidente do Conselho Municipal de Cultura e professor de Direito da Universidade Federal do Piauí (UFPI), diz que a conscientização cultural do piauiense já se desenvolveu bastante, por conta do crescimento do estado.




Entre as propostas apresentadas após a palestra de Paulo Machado, estava exatamente a inclusão do estudo da cultura piauiense nas matrizes curriculares do ensino básico. A Constituição Estadual prevê a obrigatoriedade da inclusão apenas no ensino médio, e o dispositivo ainda é desrespeitado. Assim, é raro que uma criança tenha acesso às diversas facetas da cultura desde cedo, e acaba cedendo aos modelos impostos pelos meios de comunicação de massa, citados pelo professor Nelson Costa. Juaceli Júnior, técnico educacional de uma faculdade particular de Teresina e jornalista, confirmou a necessidade da implantação das novas diretrizes nos currículos.


Também foi inclusa entre as propostas a sugestão de que livros importantes para a preservação da memória do Piauí fossem reeditados constantemente com recursos públicos e vendidos a preços módicos.

As sugestões serão reunidas num único documento, que será apresentado pelos delegados do Piauí na 2ª Conferência Nacional de Cultura, a realizar-se entre 11 e 14 de março de 2010, em Brasília. Paula Machado, ao fim das atividades, declarou que é importante que o poder público compreenda o que significa a cultura, e passe a investir maciçamente nela. “Hoje, funciona assim: os recursos para a cultura são o que sobrou, e se não sobrar também não tem problema. Cultura é tudo o que determina uma nação, e deve ser prioridade”, arrematou.


Texto, foto, vídeo e áudio: Shaianna Araújo

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