OPINIÃO - O Mal da acomodação

domingo, 18 de outubro de 2009


A seca volta a assolar a região Nordeste. Ela já se tornou praticamente uma parte do calendário nordestino: marca todos os fins de ano. Porém é insensato pensar assim a respeito da seca. As pessoas que vivem nas regiões de semi-árido e de suas proximidades sofrem bastante com esse fenômeno. Os estados que enfrentam a estiagem calculam prejuízos enormes em suas produções – agricultora e pecuarista - mas, ainda assim, estes prejuízos em nada se comparam com o que o sertanejo perde. A seca vem todos os anos, mas, para ele, não há como se acostumar com isso.

Todos os anos, o Piauí está entre os estados com maior área afetada pela estiagem. Hoje, cerca de 600 mil pessoas estão listadas como afetadas pela seca em um estado no qual sua população conta pouco mais de três milhões de habitantes. Na lista das cidades que enfrentam problemas no fornecimento de água, estão 76 municípios piauienses, até mesmo alguns de grande arrecadação como Picos.

O Exército retomou a operação de envio de carros-pipa para atender aos municípios afetados. Na cidade de Picos, pessoas estavam tendo que deixar de comprar remédios e alimentos para comprar água de carroceiros. A situação se agravava ainda mais porque a demanda se tornou tão grande que nem os carroceiros estavam conseguindo supri-la. Um absurdo maior é a seca nordestina ser um fenômeno sazonal e, ainda assim, todos os anos sermos pegos de surpresa. Sinto não poder dizer que sei exatamente quanto custariam as melhorias para amenizar essa situação de uma vez por todas, mas tenho certeza que esses planos emergenciais a curto prazo acabarão saindo mais caro que um planejamento de distribuição de água a longo prazo para a região.

Apesar de tudo, mesmo não sendo correto aplaudir, é necessário entender as atitudes das autoridades atuais. As pessoas estão sofrendo com a estiagem hoje e ações precisam ser tomadas imediatamente. É evidente a necessidade de pensar e agir na realidade atual, mas também planejar soluções para as gerações futuras, já que as previsões climáticas não são animadoras.

Mais absurdo ainda é o fato de estas faces da seca no Nordeste terem uma veiculação mínima, se comparada ao tamanho do problema. A mídia regional dá pouca atenção por causa da acomodação diante da frequência da estiagem. Isso gera no sertanejo um sentimento de esquecimento, de desistência, de caso perdido; um sentimento de que o que poderia ter sido tentado já foi. E isto não é verdade. Por mais que ouçamos falar em seca na região do Semi-árido desde que nos entendemos por pessoas, isso não é algo para se acostumar. Aquelas pessoas nunca se acostumarão com aquilo, mas acabaram se acostumando com algo ainda mais assustador: a acomodação – não só das autoridades, mas de todos, em tentar resolver, definitivamente, o seu problema.

Foto: Orlando Berti

Texto: Juscelino Ribeiro
(juscelinoribeirojr@hotmail.com)

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